sábado, 24 de abril de 2010

Muitas vezes é quente. E ácido. E queima, machuca por dentro e entala o grito na garganta. A dor aguda não saí, não como sangue. O machucado é interno. Não tem cor de carmim, não escorre pelos poros e não cura com injeção. Mas dói como agulha perfurando a pele.
Por vezes é frio. Congela a pele, a alma, o coração e quando a gente diz chega, congela as lágrimas. Elas ficam talhadas nos olhos como pedras preciosas coladas. O corpo não recebe o calor do outro e o frio persistente congela a mente e os sentimentos.
Não que eu seja contra o sentir, sempre fui a favor.
Mas meu estoque de masoquismo deliberado e doentio está chegando ao fim. A poção de 'eu suporto tudo' só tem poucas gotas no fundo do vidro. Nada mais em que me agarrar, nem mesmo aquele fio de esperança de que vai ficar tudo bem. Eu puxei tanto esse fio que ele arrebentou-se como fina teia de aranha e agora mais nada resta.
Ou seja, cansei.
Todo dia o gosto ruim do desprezo impregna na língua, todo dia a cicatriz da rejeição queima na carne. E machuca e dói, e Deus do céu, como dói.
Malditas marcas feitas de falsas promessas que quando não são cumpridas ferem como ferro quente. Antes eu tinha anestésicos ou até mesmo suportava a dor com um sorriso nos lábios na tola utopia de que um dia aquelas cicatrizes seriam curadas por promessas cumpríveis.
Mas nem isso. Nem um resquício de solidariedade ou amor, nada que me fizesse manter-me firme no meu sonho ilusório. Nada que mantivesse meu castelo encantado em pé.
Au contrair.
Pés e mais pés pisando meu castelo de areia e desfazendo-me os doces sonhos.
Sem cavalos brancos, sem príncipes encantados, e sem castelos repletos de ouro.
Hoje, tenho apenas a torre abandonada, um coração quebrado e um portar-se como princesa esquecida com marcas ardentes pelo corpo.
Nada de finais felizes por hoje, querida. Nada de finais felizes por muito tempo. Não pra você.
É o que me diz os fantasmas do passado.

3 comentários:

Saori disse...

Amanda, “A Cidade do Sol” é um livro simplesmente perfeito. Entrou na minha lista de livros favoritos!! Recomendo que leia “A Cidade do Sol” antes do “O Caçador de Pipas”. Creio que irá gostar mais da história de Mariam e Laila, do que de Amir e Hassan. Entre os dois livros, eu gostei mais de “A Cidade do Sol”.

Tem post novo: review do livro “O Caçador de Pipas”!!

Bjs!!

Amanda Nakao disse...

Apesar do texto ser triste, ele não deixa de ser bonito e encantável pros meus olhos.
E tudo que eu posso falar sobre ele e sobre oque eu entendo, é que passa, demora, mas passa meu bem. (Se isso te servir um pouco de consolo.)
E sinto-me agradecida por ter pessoas como você (e ainda por cima, 'chará') que comentam em meu sítio palavras motivadoras e lindas, obrigada.
Um beijo com carinho.

Rony disse...

Muito bom o texto, gostei mesmo, passa uma dor grande de verdade e nenhuma esperança de melhores isso é o melhor