quarta-feira, 9 de março de 2011

Saudade

O triste é que a saudade tende a ter cheiro doce, inebriante, acolhedor, que faz a gente sentar e sentir. O normal seria pular da cadeira e partir pra outra. Sair, ver o sol, cumprimentar estranhos na rua e sorrir. Até a face doer.
O normal seria ir atrás do que importa e não ficar remoendo mágoas e chorando casos pensando em acasos. Mas nunca é assim.
A gente senta pra ver um filme, se entope de besteira, chora até não poder, fica na fossa e dorme ali mesmo no sofá, entre lençóis que iludidamente nos lembram o cheiro daquele que partiu. Agora, me diz pra que?
Como se isso fosse mudar tudo no outro dia. Como se fossemos acordar de um sonho ruim e ver que aquele braço ainda está sobre nosso corpo quando o sol nasce. O que nos resta na verdade é o nada, um vazio incoerente que teima em tentar preencher-se de lembranças de momentos que não voltarão. Nunca voltarão.
O triste é que a saudade tende a ter cheiro doce. E a gente gosta do doce, geralmente gosta. Aí se apega e fica ali só pra sentir aquele cheiro que remeta àquela pessoa. Doce ilusão de um coração quebrado que não tem conserto. Quem diabos inventou a saudade? Foi também o mesmo que inventou a solidão, a frustração, a mágoa e a dor. Só pode ter sido.
Provavelmente um sádico maluco que por ser maluco compreendia o ser humano mais do que tudo. Os malucos são sempre gênios. E ele (ou ela, sabe-se lá) sabia que o comportamento do ser humano é sempre o mesmo: manter-se cômodo.
Pra que levantar e seguir adiante se tudo o que nos importa nos puxa para trás? Prende-nos ao passado? Melhor é ver filme preto e branco, gripar com tanto sorvete e encher a caixa de mensagens do outro entre uma lágrima e outra.
Porque pior do que a saudade, é não ter de quem sentir falta.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Já faz um tempo que eu não escrevo. Isso de vida nova acaba com a gente, ainda mais quando o nova é superficial, quando nada mudou por dentro e quando a gente olha no espelho e só o que mudou foram os rostos que vemos diariamente.
Outro dia senti a solidão latente em meu peito. Andei por ruas que eu não conhecia, sentei em uma praça qualquer e observei a vida. O duro de ir embora é saber que as faces que você encontra no caminho são sempre desconhecidas.
Senti o que é ir e vir sem companhia, sem ter pra quem contar algo que se quer contar. Senti a solidão e doeu. Me permiti arrependimentos, questionamentos e lágrimas. Chorei porque senti doer. Fiquei feliz por ainda sentir.
Esperando o tempo passar, eu ouvia o som dos pássaros mesclado com o barulho dos carros. Olhei os altos prédios e as árvores que pareciam pequenas e esmagadas entre eles naquela pequena praça. Observei o trânsito parar diante daquela pequena luz vermelha, e seguir quando ela se 'transformava' em verde. Pensei o qual interessante seria nossa vida se houvesse um semáforo nos dizendo quando parar e quando seguir adiante. Vi o céu escurecer, as ruas esvaziarem-se de pedestres e encherem-se ainda mais de carros.
Depois de desabafar no choro e entender um pouco mais sobre solidão, levantei e caminhei lentamente pra aula. Ainda sinto o gosto da solidão vez ou outra embaixo da língua, mas dizem que depois de toda a tempestade vem a calmaria ou o inverso disso. De qualquer forma, estou esperando o meu vendaval tornar-se brisa.