sexta-feira, 6 de maio de 2011

Manchas.

Pintei todas as paredes de branco. Tirei todos os quadros e fotografias. Apaguei todos os vestígios de momentos felizes que um dia foram presentes.
Eu posso ouvir o barulho da chuva batendo contra o telhado, e posso sentir a solidão batendo contra a porta. Tomar um café quente observando a chuva pela janela não me aquece em nada.
Porque a solidão é fria. Fria e amarga. Como o meu café está ficando. Eu olho o sofá vazio, a televisão ligada no mudo. O retrato do meu mundo.
Não ter com quem dividir o edredom ou essa xícara de café. Eu sinto as lágrimas brotarem nos olhos e a vergonha brotar no peito, quando vou contra a minha promessa de não mais chorar. Um grito silencioso ecoa dentro de mim e o único som que inunda o apartamento é o da porcelana se estilhaçando e manchando a parede alva. Agarro-me aos joelhos e choro. Permito-me. Estou sozinha. Sempre estarei.
Os lençóis azuis eu joguei fora. Eles tinham cheiro de vodka e cigarro mesclado com aquele seu perfume amadeirado. Eles tinham seu maldito cheiro. A única coisa que ainda restava, estava agora aos pedaços no chão. Aquela xícara parecia ter seu gosto e formato na borda.
Logo eu, que não queria me apegar, agora podia ouvir as paredes ecoando sua voz me dizendo: ‘Entregue-se baby’.
E foi o que eu, ridiculamente, fiz.
Me entreguei por meses, de toda a alma e corpo e agora só o que me resta é um quarto vazia com lençóis novos, o lado direito da cama desocupado e o cheiro de tinta fresca.
O que me desespera é saber que amanhã quando eu voltar pra casa, a única coisa que vai ter à minha espera é uma garrafa de café vazia e aquela mancha na parede.