quarta-feira, 18 de abril de 2012

Not yet. Not today.

Você tem um jeito todo bobo de desviar do assunto. Olha de lado, fala sobre o tempo. Me diz que estou bonita só pra cortar os dizeres pela metade.

Tem o hábito de elogiar a minha roupa, ou enfatizar o quanto você gosta daquele batom vermelho, mas quando indago sobre o gostar de mim, você afina os olhos naquele sorriso despretensioso.

Você tem todo esse jeito de não dizer o que pensa ou sente. Mantém todo o charme do pode ser e me deixa fazer papel de boba pra depois segurar no meu queixo e dizer que tudo está bem.
Sempre espera que eu tome a iniciativa e no fim desiste do jogo. Nunca deixa brecha para que eu entre, sempre parecendo água escorrendo entre os dedos.

Você gosta de me ouvir falar o quanto eu gosto de você, e gosta de me ver esperar o retorno que nunca vem. Tem um jeito meio sádico de esperar o machucado para depois pensar na prevenção.
Nunca termina frases começadas deixando-as com múltiplos sentidos. Gosta de me deixar nesse labirinto e de me ver perder-me no caminho, sem achar uma saída, sem achar uma solução.

Me olha nos olhos como quem tem algo importante a dizer simplesmente pra mexer no meu cabelo. Abre a porta, mas não me convida a entrar.
Você tem esse jeito meio assim, meio distante, meio frio, meio rígido. Aí depois desanda, diz algo bonito, me vê encher os olhos e volta atrás.

Porque por mais que eu tente, e você tente, nós dois sabemos que essa não é a nossa hora.

Not yet. Not today.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Balanceamento.

Quando desando no contar, você desliza no ouvir.

Falo mais do que faço e você mal fala. Quando começo, você termina. Quando você inicia, eu estou finalizando.

Se sou travessão, você é ponto final. Se você abre aspas, eu fecho parênteses.
Você é parágrafo à frente na minha escrita, eu sou página à frente na sua leitura.

E não é falta de sintonia, não. Há tanta química que faltam elementos para compor nossa tabela periódica. Sobra espaço pra ser preenchido com física, matemática ou história.

Quando falo de Vinícius, você diz preferir Caio. Quando ouço Djavan, você cantarola Caetano. Nunca na mesma literatura, nunca na mesma sinfonia, nunca no mesmo espaço de tempo.

Eu me calo, você transborda dizeres. Você fica bravo, eu sorrio disfarçado. Eu abro o Word com correção automática, você rabisca o papel com a caneta.

Mas sem você eu me perco. Quando você não está aqui, ao redor, sou verso sem rima. Sou fim de frase morta. Sou ponto e vírgula. Nunca sou exclamação.

E sem mim você desanda. Se torna sorriso por obrigação. É um bom dia sem o desejo de ser bom. Você vira frase negativa.

Sem o nós, os nós desatam. Não há complemento. Eu deito no lado direito da cama, você coloca o travesseiro sobre a cabeça. E o sono abandona os dois.

Eu encaro a parede, você o teto. E os pensamentos se cruzam.

E é então que temos a certeza de que pra haver um, o outro tem que se fazer.