sexta-feira, 20 de março de 2009



O abraço

Aqueles lábios repousaram sobre os meus
O hálito inebriante que exalava pecado
Eu me senti entorpecida nos beijos teus
Naqueles lábios gélidos de sabor adocicado

Os dedos frios percorriam meu rosto
Como quem delineia finas linhas do papel de seda
Desejando minha mortalidade com desgosto
Eu senti em seu toque o pavor da perda

O desejo latente de manter a sanidade
Tentando controlar aquele instinto vil
Eu o via renegar-me a sua mesma eternidade
Com um medo absurdo que eu me partisse em mil

Meu peito arfava entre ansiedade e temor
E o dele permanecia em defensiva rigidez
Eu me indagava qual de nós sentiria mais dor
Enquanto meu pescoço pendia-se em estado de languidez

Os lábios petrificados desciam-me pelo queixo
Hesitante em busca do que lhe fora oferecido
Como se buscasse incessantemente seu próprio eixo
Mesmo sem precisar ele respirou embevecido

A corrente que o prendia se quebrava
Agora a besta dentro dele estava solta
O querer ímpeto que o dominava
Eu puder sentir naquela desejada boca

A língua trêmula deslizou-me pela jugular
Com uma sofreguidão até mesmo indecente
Implorando entorpecida pela vontade de me tomar
Parecia clamar sedenta pelo meu sangue quente

Eu senti dolorosamente minha pele se romper
E as afiadas presas minha carne atravessando
Tirando de mim o sol que eu não poderia mais ver
De forma doentia minha essência ele ia drenando

Minhas forças acabavam naquele instante de delírio
Onde finalmente eu realizava minha aclamada utopia
Aproximando-se a hora do último suspiro
Ironicamente eu via um véu negro que me cobria

Melancolicamente o que tornou-se minha canção de morte
Foi a doce melodia do meu sangue sendo sugado
Entre o prazer e a agonia eu silenciosamente agradeci a sorte
Por ter minha existência se esvaindo pelo beijo do meu amado

Eu recobrei os sentidos e reconheci em meus lábios o sabor da vida
Em minha boca o gosto do sangue dele me tornava impura
Mas nem naquele momento eu me senti arrependida
Porque eu podia sentir seu abraço com sua pele fria e dura

Agora eu também sobrevivo dessa louca volúpia ardente
Daquele mesmo beijo extasiante que supre meus momentos de ira
Alimentando fervorosamente esse desejo incandescente
Que reside nesse meu novo ser que os mortais chamam de vampira.

3 comentários:

Roberta Albano disse...

Íncrível
estava me controlando para saborear cada palavra e ao mesmo tempo meu sangue começou a ferver lendo isso
Eles deveriam incluir sua poesia na próxima edição de vampire hehehe

mas sério, está brilhante
completamente empolgante e ritmada

rui disse...

AMANDA.....obrigada pelo carinho..

e sobre este texto é assim ........
ele tem continuacäo..... os beijos
esse calor ardente...vai até onde
..... espero pelo proximo capitulo

será que a vampira vai atacar...deixando o vampiro..sem pinga de sangue........

bom fim de semana
um beijinho para Si
Rui

Karen Cavalcante disse...

My killer, my lover...
Simplesmente ótimo.
Pra gelar o sangue.
bjo*