
-Você não vale a pena! – ele disse.
Ela sentiu o chão abrir em meio aos seus pés. Parecia que estava caindo em um buraco negro sem fim. Ela pôde ouvir o barulho da porta do apartamento fechando. Mas seus sentidos pareciam ter parado. Estava tudo meio lento, meio torto, meio fora do lugar.
Ela sentiu uma vontade repentina de vomitar. Correu para o banheiro. Que sensação era aquela? Lágrimas saltavam-lhe os olhos quase que inconscientemente. Ela teve que tentar se recompor entre vômito e lágrimas. Agonia e soluços.
Sua mão tremia. Seria o efeito daquela frase?
Ela nunca imaginou aquela cena. Eles tinham passado por tanta coisa juntos e agora com aquelas palavras ele a tratara como se o tempo junto de nada significasse. Ela sequer entendia o porquê daquilo naquele momento.
Suas entranhas pareciam querer sair pela boca. Ela sentia como se seu coração tivesse uma estaca fincada nele. Ou como se alguém tivesse pegado o mesmo e apertado cravando nele unhas afiadas.
Sua alma parecia sangrar. Era como se ela sentisse o sofrimento dentro de si. Era uma dor incomparável que ela sentia. Não era física, sua cabeça, seu corpo, nada exteriormente doía, mas por dentro a história era outra. Ela podia ouvir o choro no âmago do seu ser. Ela podia sentir sua alma gotejando lágrimas de extensa dor. Ela podia sentir sangue brotando de suas entranhas para afogar seu interior naquele líquido designador da morte.
Ela sentou-se por um momento tentando compreender a situação.
Chorava e apenas chorava. Sua voz travara, todos os seus sentidos pareciam ter parado por completo.
Ela caminhou lentamente como se outra pessoa guiasse seu corpo. Não era ela ali, mas ela não estava com forças suficientes para tentar ir contra aquele desejo que corria dentro de si.
Seu corpo o levava até a pia do banheiro. Automaticamente suas mãos pegavam uma gilete. Foi o único momento que ela pode usar seu raciocínio.
-Tão clichê. –sussurrou para si mesma.
Caminhou novamente e sentou-se em meio à cerâmica branca do banheiro.
Encostou-se no vaso sanitário e olhou para seus próprios pulsos.
Não hesitou e cortou os mesmos de forma firme. Pareceria tão decidida se alguém a visse. Não daria para saber o qual fraca ela estava na realidade.
Ela pôde ver o sangue jorrar e sujar a límpida cerâmica. Seus sentidos começaram a fugir e seus olhos a perder o brilho.
Sempre pensara que nessas horas passavam-se todos os momentos da vida da pessoa em sua mente, como o trailer de um filme.
Com ela estava sendo diferente. As cenas passavam sim, mas não eram cenas de toda sua vida, eram cenas de sua vida com ele. Somente os momentos dele juntos, e somente as cenas que lhe proporcionaram felicidades. Não era hora de lembrar as cenas tristes... Naquele momento, ela queria poder sentir-se feliz pela última vez. Ela foi tombando vagarosamente enquanto perdia totalmente suas forças.
Parecia incrível, mas ainda pôde-se notar um sorriso singelo brotando dos lábios dela e um sussurro quase inaudível:
-Pois pra mim... -a voz parecia falhar - você sempre valerá a pena.
Seu coração tornava-se mais lento.
-Tum-tum... Tum...... Tum.............Tum...............................................................
Ela deixou de existir. Sua vida não mais pertencia a esse mundo. Uma lágrima ainda rolou pela face dela que agora começaria a tornar-se gélida.
Esse foi o último suspiro de vida de uma garota que amou com tudo o que podia. Seu erro fora o fato de ter-se dado tanto a alguém. Seu erro causara sua morte. E agora ali, jogada naquele chão duro e frio, entre aquela substância vermelha com cheiro de ferrugem, estava o corpo da menina que se foi sem que ninguém pudesse ouvir suas últimas palavras.