quinta-feira, 2 de setembro de 2010



Na verdade eu não acredito mais em para sempre.
Queimei todos os livros de contos de fadas, quebrei todas as bonecas lindas e perfeitas que teriam um futuro magnífico ao lado de bonecos igualmente formidáveis.
Exclui todas as músicas que falam sobre amores patéticos e apaguei todos os filmes e seriados com cenas românticas e ilusoriamente encantadoras.
Não acredito mais no para sempre.
Nem mesmo me lembro qual foi o último em que acreditei.
Tudo o que posso dizer hoje, é que deixei de ser crédula em muitas coisas, uma delas foi o amor.
Não que eu esteja sofrendo desesperadamente por senti-lo. A questão é justamente o contrário, eu não o sinto mais. Ele já não toca minha campainha ou me liga ou me tira o sono em meio à noite.
Ele já não está aqui.
Vou dormir sossegada e quando quero. Não há mais uma sombra no meu quarto sussurrando palavras doces em meu ouvido. Não há mais nada.
Não há mais companhia e quando falo sobre companhia, falo sobre amor.
Há sim, pessoas que vem e vão, umas demoram uns dias a mais que outras, mas no final, sempre se vão e levam junto qualquer esperança mínima de que o amor parta dali.
Elas se vão e nem sequer me deixam sua falta. Taí a prova de que não houve mesmo amor em nenhum momento da noite. Ou das noites, dependendo do meu humor.
Ou dependendo do porre.
Nisso sim eu acredito. Na diversão, na bebida, nos amigos, mas nunca acredito num quase alguma coisa qualquer que poderia surgir naquela cama em alguma noite.
Hoje tudo que eu vejo ou ouço sobre romance, se resume a nada pra mim. Não me atraí, não me instiga, não me acende. Nada. Não há nada.
O copo de vinho e a solidão são meus únicos companheiros. Talvez no fundo, bem lá no fundo eu sinta falta de algo mais, porém é difícil de admitir.
Depois de certo tempo usando a máscara, não é tão fácil tirá-la e mostrar sua vulnerabilidade. Você se acostuma com a pose de forte e de que tudo vai ficar bem.
E quando você desacredita de tudo é que a máscara cola mais no seu rosto.
Às vezes repetimos uma mentira pra nós mesmos tantas vezes, que no final da noite é provável que acreditemos nela.
Quem precisa de companhia na noite quando se tem a máscara da inércia?
Inércia. É isso mesmo.
Depois de desacreditar de tudo, resta apenas a inércia. Talvez inércia seja o nome da minha solidão. Nunca perguntei o nome dela.
De qualquer forma, mesmo sem saber seu nome, sei que é ela que me acompanha e que dorme comigo todas as noites. E pelo menos sei que pra ela eu não preciso fingir.
Posso chorar, praguejar e quebrar copos na parede, que ela silenciosamente acompanha o meu sofrimento sem maiores manifestações.
E depois deita comigo sem perguntas ou porquês.
Hoje, eu só acredito nela.
Só acredito na solidão.
Mas não acredito mais em para sempre.
Tanto que por vezes acordo no meio da noite pra ter certeza que a solidão tá ali, porque nem ela eu sei se vai ficar sempre comigo.
Talvez algum dia eu tenha apenas a mim mesma.
E nada mais.

Um comentário:

André Walker disse...

hum...às vezes o problema é que esperamos pelas coisas, planejamos as coisas, planejaruma coisa e esperar que aconteça ou seja exatamente como planejamos é o primeiro passo pra se frustrar... é melhor viver e ir vendo o que acontece no caminho ^^
have a nice day! ^^