sábado, 20 de fevereiro de 2010

A memória não me falha

Eu senti meu mundo ruir. Meu castelo de vidro estilhaçar-se. Meu conto de fadas ser levados pela maré de lágrimas que fluiu de meus olhos.
Eu ainda lembro do adeus. Do seu rosto marcado e da minha mão ardendo. Do seu timbre de voz e da lua naquela noite. Lembro de ter observado o céu por um longo tempo, talvez por não querer te olhar nos olhos, talvez por querer inutilmente impedir que as lágrimas saíssem.
A memória nunca falha quando é sobre você. Sobre nós.
Meu tempo parou ali. E eu apenas lembro de tudo sobre a gente. Isso é tudo que ocupa meus pensamentos. Fora isso eu não lembro de mais nada.
Nem lembro o tempo que faz que eu estou trancada nesse quarto. Olhando apenas para as paredes brancas que servem pra projetar lembranças suas.
Daqui, eu vejo apenas o que observo pela janela. A lua. Todas as noites. Tentando achar em cada uma delas, alguma semelhança com a daquele dia.
E eu me fecho no quarto revirando meus fragmentos de memória para relembrar nossos momentos.
Tudo parece tão vivo.
Eu vejo o seu sorriso na foto do porta-retrato ao lado da cama e sinto o gosto de cigarro vagabundo que tinha teu beijo.
Ainda sinto a frieza do piercing que batia contra minha língua e o cheiro de vodka e tabaco impregnado nos lençóis azuis. Ainda sinto a ponta de minhas unhas redesenhando a fênix tatuada em tuas costas.
Maldita memória que nunca falha.
Antes amanhã eu esquecesse do hoje, e hoje eu esquecesse do amanhã. E não precisasse, não pudesse, não quisesse reviver tudo outra vez.
E eu adormeço.
Abraçando um porta-retrato, cheirando um lençol e esperando o celular tocar. Remoendo e alimentando a esperança de ser acordada com aquela música de 3 Doors Down que tocava quando você me ligava.
Nem sei quanto tempo faz. Parei de contar o tempo.
Eu nem me lembro mais.
E adormeço.

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