
Ela chora silenciosamente.
Trancada no quarto, escondida sobre os lençóis, ela chora. Em posição fetal, tremendo e sem respirar direito. A lua lá fora acompanha as lágrimas da garota assustada. E ela lembra a perda do amado. A perda das pedras preciosas que era aqueles olhos que lhe observavam.
Tanto tempo se passou... Tanto tem já se foi, mas ela ainda chora como se revivesse eternamente o instante em que ele se fora. Ela não pode sair da cama, porque ela teme. O quarto escuro, vazio e assombrado. Os fantasmas dos dois juntos naquele ambiente... São assombrações a lhe atormentar.
Ela chora e ora. Baixinho. Sozinha. Tremendo.
Ela não pode gritar, porque ninguém a ouve. Não há ninguém lá pra ela. Aquele que deveria ser seu... Se foi. Levou consigo a alegria dela... E agora ela só chora. E se esconde.
Ela teme sair dali e se enrosca nos lencóis brancos, já molhados pela água com sal que saí dos olhos agora vermelhos e inchados.
Há apenas o móbido silêncio do quarto vazio. Apenas o som contido do choro silencioso, e o soluço preso na garganta. Mesmo assim, ela não ousa sair. Porque ela sabe que ali tem fantasmas, seus temores são fantasmas, seus rancores são fantasmas, suas doces lembranças agora são monstros do armário.
E ela sabe que permanecer chorando, sozinha no escuro não leva a nada... Mas, com as feridas ainda expostas ela prefere ficar entre seus lençóis.
Ela chora e ora. Baixinho. Sozinha. Tremendo.